Primeiro nós atacamos

PEDRO CASTILLO/REAL MADRID VIA G

Por onde nós começamos? Eu quero contar para você como meu avô mudou a minha vida. Mas eu também quero falar sobre o Ronaldo. E também sobre o Romário curtindo no avião, e sobre um fusca laranja.

Nós temos muito para falar a respeito. Vamos começar com um cheiro.

É a primeira coisa que eu consigo me lembrar na minha vida. Quando eu tinha 6 anos de idade, nós já estávamos em férias de verão na escola, mas eu ainda costumava acordar às 7h30 todas as manhãs e levar minha bola de futebol numa pracinha na Praia do Botafogo.

É no Rio, de onde vêm os melhores jogadores de futebol ?

Tinha esse parque próximo da praia com essa quadra de futebol de salão com escorregador pequeno para as crianças, e tinha sempre o mesmo cara gritando para as pessoas estacionarem seus carros: “É um real, É um real, É um real”.

Ele guardava o carro por um real. Eu me lembro do som da voz dele, mas eu me lembro mais ainda do cheiro da terra. Tinha um cano de drenagem quebrado que soltava água por todo o solo ao redor da quadra, se transformando em barro. Então, todas as vezes as manhãs, quando eu caminhava até o parque, eu sentia o cheiro da lama.

A quadra era o território dos torcedores do Botafogo, então, em alguns dias, eu aparecia, e eles já tinham dominado o lugar, e eu tinha de jogar no canto sozinho. Em outros dias, eu aparecia e não tinha ninguém jogando lá. Não importava – o pequeno Marcelinho estava lá todos os dias.

Eu tenho uma lembrança profunda daquele cheiro, e a sensação de ter a bola nos meus pés. Eu percebi uma coisa que ainda é verdadeira para mim. Sempre que você tiver a bola aos seus pés, você não pode ficar bravo. Você nem mesmo precisa de outras pessoas para jogar com você. Tudo gira em torno da bola.

Eu me lembro que naquele verão de 1994, a Copa do Mundo estava acontecendo nos Estados Unidos. No Brasil, pouco antes da Copa do Mundo começar, todo mundo na vizinhança saía nas ruas para pintar os muros e para comemorar. Todas as coisas ficam cobertas de verde, azul e amarelo – as ruas, os portões, as paredes, os rostos das pessoas. Essa é uma lembrança muito especial para todas as crianças no Brasil. Eu estava lendo a história do Ronaldo outro dia, e ele estava contando como ele foi para as ruas antes da Copa de 1982 e ajudou a pintar um mural do Zico.

Bom, adivinha só, Ronaldo?

Se você estiver lendo isso, quando eu tinha 6 anos de idade, meus amigos e eu pintamos o seu rosto na nossa rua. Você era o nosso herói. É uma lembrança que fica no meu coração.

É engraçado o que a gente lembra da vida. Eu não me recordo muito bem de assistir ao Brasil ganhar a final. Tudo isso para mim não fica muito claro. Mas eu tenho uma lembrança de ver uma foto específica na primeira página do jornal do Rio. A Seleção Brasileira tinha acabado de chegar no Brasil, e o Romário estava literalmente curtindo na janela da frente, na cabine do piloto, balançando uma bandeira gigante do Brasil, como se ele estivesse acabado de conquistar o mundo pra gente.

BRUNO DOMINGOS/AFP/Getty Images

Eu me lembro de ver aquela foto e sentir que meu coração ia explodir de orgulho. Eu pensei, Meu Deus, eu preciso fazer isso um dia.

É claro, esse era um sonho ridículo por vários motivos. Em primeiro lugar, existem 200 milhões de pessoas no Brasil, e todos eles querem ser jogadores de futebol (mesmo os caras mais velhos). Em segundo lugar, eu nem mesmo era jogador de futebol ainda. Eu só jogava futebol de salão num time local. Viajar por um clube de futebol não era algo muito realista para a minha família. Talvez as pessoas nos Estados Unidos ou na Inglaterra não entendam isso muito bem, mas a gasolina no Brasil, principalmente quando eu era criança, era muito cara.

Felizmente, meu avô estava disposto a sacrificar tudo por mim. Ele é a pessoa mais importante na minha história. Se você quiser visualizar o meu avô… bem, ele era uma figura. Ele sempre estava com óculos de sol, e ele costumava dizer uma frase. Ele dizia isso sempre quando ele estava com os amigos.

Como posso dizer isso?

Bom, ele falava assim…

“Eu não tenho um puto no bolso, mas eu sou feliz pra car****!”

Ele costumava me levar para o futebol de salão numa Variant. Eu acho que o carro era modelo 1969. Quando eu tinha 8, 9 anos de idade, comecei a viajar bastante com o time e era muito caro pra gente pagar pela gasolina, pelo almoço e por tudo mais, então, meu avô tomou uma decisão que mudou a minha vida.

Ele vendeu o carro e usou o dinheiro para pagar por nossas passagens de ônibus. Por anos, ele ficou sem carro, só para que eu pudesse continuar jogando futebol. Ao fazer um sacrifício como esse, talvez você possa pensar que ele se sentia como um mártir ou dizer, “Oh, coitado de mim”.

De jeito nenhum.

“Meu neto é o maior jogador de futebol do Rio de Janeiro. O maior jogador no Brasil! Magnífico! Imparável.”

Aos olhos dele, eu nunca cometia um erro. Era hilário. Ele voltava para casa depois de ter assistido aos meus jogos e dizia pro meu pai. “Você tem que vir assistir o Marcelo jogar. O que ele fez hoje, oh meu Deus, foi mágico. Incrível.”

Mas o meu pai sempre tinha que trabalhar. Ele provavelmente pensava que o meu avô era louco. A parte mais engraçada era quando eu não jogava nada e nós perdíamos. Ele não me criticava porque ele sabia que eu sabia onde eu errava. “ah, depois você vê isso daí…”.

Ele me fez sentir como se eu fosse o Ronaldo quando eu tinha 9 anos de idade. Eu juro por Deus, eu andava pela casa com meu peito estufado, tipo, Eu sou jogador de futebol.

“Eu não tenho um puto no bolso, mas eu sou feliz pra car****!”

Então, um dia, quando eu tinha talvez 12 anos de idade, meu avô apareceu no meu jogo dirigindo um fusca laranja.

Ele diz, “Entra aí, nós vamos de carro para casa”.

Eu, tipo, “O que está acontecendo? Onde você conseguiu isso?”

Ele, “Jogo do bicho”.

No Rio, o Jogo do bicho pode não ser 100% legal, mas é o jogo do povo. Você escolhe um número associado com um animal – como uma avestruz ou um galo ou qualquer coisa. Todo dia, tem um novo sorteio do jogo de bicho. Meu avô ganhou não sei quanto dinheiro no jogo do bicho e daí ele comprou um Fusca.

Era inacreditável. Nós íamos para todo lugar com aquele carro. Mas quando eu tinha 15 anos, fui convidado para jogar futebol de campo com o time juvenil do Fluminense. O problema era que o campo de treinamento era em Xerém, quase duas horas de distância da minha casa, e ia ser impossível pra gente pagar combustível para ir lá todos os dias. Então eu decidi que ficaria nos dormitórios do clube. Eu ficava totalmente sozinho, longe da minha família. Meu avô ainda iria até lá aos sábados à noite para que eu pudesse ficar os domingos em casa no Rio, então, ele me levava de volta.

Você precisa entender isso. Ele ganhou no Jogo do bicho. Então era um Fusquinha antigo, dos anos 1970. Todas as vezes que ele fazia uma curva, a estação de rádio mudava.

Depois de um tempo indo e voltando, eu estava simplesmente exausto. Eu me sentia como um escravo do futebol. Eu via todos os meus amigos indo pra casa, pra praia, curtindo a vida, e tudo que eu fazia era treinar.

Um dia meu avô foi me buscar e eu disse a ele: “Chega, eu vou desistir e vou voltar pra casa”.

Ele disse, “Não, não, não. Você não vai fazer isso. Depois de tudo que nós lutamos?”

Eu disse: “Estou no banco de reservas. Estou jogando fora minha juventude. Chega.”

E então ele começou a chorar.

Ele disse, “Marcelo, fique calmo. Você não pode desistir agora. Eu tenho que ver você jogando no Maracanã um dia”.

Aquilo realmente tocou meu coração. Eu disse a ele, “tudo bem, eu vou jogar mais uma semana.”

Eu desisti de desistir de jogar bola.

Joe Giddens/EMPICS/PA Images via Getty I

Dois anos depois, eu entrei no gramado do Maracanã pelo time principal do  Fluminense com meu avô assistindo nas arquibancadas. Ele sabia. Ele apostou em mim desde o começo, e ele simplesmente já sabia.

Quando eu completei 18 anos, alguns clubes da Europa começaram a me rastrear. Eu ouvi que o CSKA de Moscou me queria, assim como o Sevilla. Naquela época, o Sevilla estava voando, com o time cheio de brasileiros, então eu pensei. “Ow, Sevilla, pode ser manero”.

Então, um dia eu recebi a ligação de um agente. Ele disse, “Você quer ir para o Real Madrid?”

Ele disse isso como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Então eu disse, “Claro, né?”

Mas eu não sabia quem era esse cara.

Então ele disse, “Então você vai para o Real Madrid. Guarda isso que estou te falando.”

Algumas semanas depois, nós estávamos jogando em Porto Alegre, e o Real Madrid enviou alguém para me encontrar no hotel. Então eu fui até o lobby e um senhor se apresentou. Mas ele não estava usando um distintivo do Real. Ele não me entregou um cartão ou qualquer coisa do tipo.

E ele começou a me perguntar coisas, tipo “Você tem namorada?”

Eu disse: “Sim, claro”.

Ele diz: “Com quem você mora?”

Eu: “Com a minha avó, tal.”

De novo, sem qualquer cartão de identificação, sem escudo do Real Madrid. Sem papeis de contrato. Então eu estava realmente pensando comigo, Isso é pra valer? Estou prestes a ser jogado num avião para a Sibéria ou algo do tipo?

Dois dias depois, eu recebi uma ligação de que o Real queria que eu fosse para Madrid para fazer um exame médico.

Eu ainda estava pensando, isso é sério?

Você tem de compreender algo a meu respeito. Até os 16 anos de idade, eu nem mesmo sabia que existia uma Champions League. Eu lembro disso exatamente – eu estava sentado na sala do clube em Xerém, e alguns caras assistiam a um jogo na TV. Era Porto x Mônaco. Mas na verdade o jogo parecia diferente. Era noite, com todas as luzes brilhando, com todos os torcedores, e o campo era tão bonito e sem buracos…era simplesmente incrível. No Brasil, pelo menos naquela época, as luzes não eram tão brilhantes. A grama não era tão verde.

Parecia que aquele jogo estava sendo transmitido de outro planeta que eu não conhecia.

A certa altura, eu tava tipo, “Ei, que car***** de jogo é esse?”

Meu amigo diz, “Champions League”.

Eu disse, “Champions do quê?”

Ele, “Cara, é a final da Champions League”.

Eu não fazia a menor ideia do que ele estava falando. No Brasil, a Champions League só era exibida nos canais a cabo. A maior parte das pessoas, como eu, não tinha acesso a isso.

Então, como eu dizia, eu estou no avião indo pra Madri ?

Lembre-se disso, eu tinha acabado de fazer 18 anos. Eu juro por Deus que eu achava que estava indo para lá só pra uma conversa. Quando eu cheguei para o encontro com o clube, eu vi os contratos com o símbolo do Real Madrid em cima –  e assinei aquilo tudo rapidinho.

Então, os caras de terno me levaram direto para o campo de futebol. Eles me apresentaram para a imprensa naquele dia. Eu não fazia ideia que já seria apresentado. Minha própria família no Brasil me disse que eles não acreditavam que era verdade até que eles viram a notícia aparecer no Globo Esporte:

AOS 18 ANOS, MARCELO É APRESENTADO NO REAL MADRID.

Um dos motivos que fazia tudo parecer tão irreal era o fato de Roberto Carlos ser o meu ídolo. Para mim, ele era Deus. Ser contratado pelo mesmo time do Roberto Carlos, na mesma posição, eu não podia acreditar.

Entrando naquele vestiário… você tinha Robinho, Cicinho, Julio Baptista, Emerson, Ronaldo, Roberto Carlos. Seis lendas brasileiras. Além de nomes como Casillas. Raul. Beckham. Cannavaro. 

O pequeno Marcelito andava por ali, tipo, Eu só conhecia esses caras pelo videogame.

Eles podiam ter me engolido. Mas deixe eu te contar uma coisa sobre o Real Madrid. É um clube especial nesse sentido. Roberto Carlos caminhou comigo no primeiro dia e disse, “Aqui está o meu número de telefone. No caso de você precisar de alguma coisa. Qualquer coisa… você me liga.

No meu primeiro natal em Madrid, ele convidou minha esposa e eu para ir à casa dele com toda a sua família. O cara é meu ídolo, e nós estamos disputando a mesma posição como lateral esquerdo. A maioria dos caras não teriam feito aquilo para um moleque mais jovem. Mas era o Roberto Carlos. Ele é confiante. Este é o sinal de um homem de verdade.

Eu me inspirei muito no Roberto Carlos dentro de campo também. Roberto Carlos ia pra cima e pra baixo como uma animal na ala esquerda. Se você me ama ou me odeia, você sabe do que sou capaz quando estou lá. Eu adoro atacar. Não, é atacar como todos os laterais fazem. É A-ta- car como se eu fosse um ponta mesmo, entende?

E depois, na defesa? A gente tenta consertar o problema. A gente dá um jeito. Mas primeiro a gente gostava de atacar.

Você só pode jogar desse jeito se você tiver um bom entendimento com os seus companheiros de equipe. Fabio Cannavaro jogava do meu lado, e ele me dizia: “ Você pode atacar, Marcelo. Fica à vontade. Pode ir, que eu sou o Cannavaro. Você pode ir.”

É como o Casemiro faz comigo hoje. “Vai pra cima, Marcelo. A gente dá conta do resto depois”.

Ahhhhh, Casemiro. Ele salvou a minha vida. Eu poderia jogar até os 45 anos de idade com esse cara do meu lado. ?

Quando eu cheguei em Madrid, Cannavaro me ajudou a ficar mais solto. A regra era, eu podia atacar desde que eu voltasse correndo pra defesa. Mas e quando eu estava atrasado para voltar para a nossa metade do campo? Hahahahahah. Ah, cara. Aí ficava sério. O cara sabia gritar. Ele pegava no meu pé.

Cannavaro pegava pesado comigo com razão, e eu amo ele por isso.

Bernat Armangue/AP

Ainda assim, você aprende rapidamente que o nível no Real é muito alto. No final da minha primeira temporada, o diretor me chamou na sala dele, e eu ainda era jovem e inexperiente. Entrei lá com meu boné na cabeça, tranquilão.

Ele me disse que o clube queria que eu saísse por empréstimo.

Eu entendi o que eles estavam tentando fazer. Eles queriam que eu adquirisse experiência. Mas eu pensei, Este é o Real Madrid. Se eu sair agora, eles podem nunca mais me ter de volta.

Ele queria que eu assinasse um pedaço de papel.

A única coisa que eu perguntei a ele foi, “Se eu não assinar isso, então eu não tenho que sair, certo?”

Ele disse, “Bem, é isso. Se você não assinar, você fica por aí. Se o técnico quiser ficar com você, então vai ser isso mesmo. Mas eu acho que você precisa adquirir alguma experiência”.

Eu pensei, Só com porrada ou com polícia pra eu sair daqui.

Eu disse, “Eu vou pegar experiência. Deixa isso comigo”.

Eu agradeci a ele e saí da sala.

Roberto Carlos foi embora naquele verão e eu comecei a jogar mais. O pequeno Marcelito decolou.

Sempre que eu voltava para o Brasil nas férias, eu ia visitar o meu avô, e ele continuava colocando todas aquelas coisas numa estante da casa dele. Quando eu tinha 6 anos, ele começou a fazer um tipo de galeria para minha carreira. Ele colocava todas as fotos do time e todos os troféus ali, e sempre que eu marcava um gol, ele registrava isso num caderninho. Literalmente, todos os gols que eu tinha feito desde os tempos de escola.

Sempre que eu saía nas páginas dos jornais da cidade, ele pegava uma tesoura e recortava a matéria, plastificava e tudo mais.

Em uma de minhas férias de verão do Real Madrid, e eu percebi que ele ainda estava fazendo isso. Ainda cortando tudo e plastificando tudo. Mas nós estávamos ganhando La Liga. Tinha muito material saindo na imprensa. Ele pegava todos os jornais. Ele não perdia nada.

Power Sport Images/Getty Images

Eu sempre quis acrescentar duas coisas naquela estante: uma foto minha segurando o troféu da Champions League e uma foto minha curtindo na frente de um avião depois de ganhar uma Copa do Mundo, balançando a bandeira do Brasil como o Romário.

Quando nós chegamos à final da Champions League contra o Atlético de Madrid, meu avô estava doente. Antes da final, eu tinha começado uma sequência de quatro jogos como titular. Eu estava pronto. Infelizmente, o técnico escolheu outro para jogar no meu lugar.

O que você quer que eu diga? Eu fiquei muito triste no começo. Com um pouco de raiva. Mas, na minha mente, eu sabia que havia algo maior reservado para mim naquela noite. Eu sentei no banco e esperei. Quando nós estávamos perdendo de 1 a 0, eu esperei. Aos 45 minutos do segundo tempo, eu ainda estava esperando. Se você me conhece, ou teve a chance de me conhecer durante essa história, você pode imaginar o que estava se passando na minha cabeça. Eu não preciso dizer.

Então, aos 48 minutos do segundo tempo, o Sérgio Ramos nos salvou da morte novamente. Eu não sei o que é que esse cara tem. Acho que pode ser o cabelo.

Quando o técnico chamou a mim e ao Isco na prorrogação, eu corri para o campo com muita raiva – mas um tipo de raiva boa pra jogar. Eu queria conquistar. Eu queria deixar tudo no gramado.

Na hora que eu marquei o gol do 3 a 1, eu acho que meu cérebro travou, de verdade. Eu pensei em tirar a minha camisa. Daí eu pensei de novo, eu não posso tirar a camisa, eu posso receber um cartão. Então eu fiquei sério. Daí eu comecei a chorar. Uma loucura.

Dez anos antes em Xerém, eu olhava para a TV e via as luzes brilhando e a grama verde, e perguntava: “Que jogo é esse?”

Dez anos depois, eu estava segurando o troféu. La décima – o décimo campeonato europeu na história do Real Madrid.

Alguns meses depois daquela final, meu avô morreu no Rio.

Eu tenho muito orgulho de ele ter me visto levantar o troféu da Champions League. Foi por causa dele que eu chegue naquele pódio.

Às vezes eu acordo e penso, “11 temporadas pelo Real Madrid. 11 anos jogando pelo Brasil. Para um jogador maluco como eu. Como eu ainda estou aqui?”

Se eu te dissesse que isso é normal, eu estaria mentindo.

Todos os dias quando eu apareço para treinar, estaciono meu carro e vou para o vestiário do Real Madrid, é uma emoção gigante. Mesmo que eu não demonstre isso, dentro de mim, eu sinto isso profundamente. Eu ainda estou em estado de choque todos os dias.

Para mim, ser parte do legado do clube não tem preço.

Mas eu tenho uma missão final.

Na Copa do Mundo de 2018, a Seleção Brasileira está voltando. Escreva o que estou te dizendo. Coloque um selo. E mande pelo correio para si mesmo. Com o Tite como nosso técnico, eu sinceramente acredito que podemos colocar a bandeira brasileira de volta ao posto mais alto.

Eu posso te dizer que ele é uma pessoa fenomenal.

Na verdade, quando ele aceitou ser técnico da Seleção, ele me ligou e disse: “Eu não estou prometendo a você que eu vou te convocar, mas se eu fizer isso, você ainda estaria disposto a jogar pela Seleção Brasileira?”

Sam Robles/The Players' Tribune

Eu disse, “Professor, só o fato de você estar me ligando, para mim é uma emoção gigante. Eu venho jogando pela Seleção Brasileira desde que eu tinha 17 anos. Eu pegava voos de 20 horas sentado num lugar horrível, e agora que eu estou com um bom assento, você acha que eu não vou? Estou disponível sempre que precisar de mim.”

Aquele telefonema foi tudo para mim. Foi a primeira vez que eu recebi um telefonema de um técnico da Seleção Brasileira, e olha que faz 1o anos que eu jogo pela Seleção. Eu mataria pelo Tite, e vou fazer de tudo que eu posso para colocar um troféu de ouro na estante do meu avô.

E se eu não conseguir, o que eu posso dizer? Eu ainda serei o Marcelo. Feliz ca*****!

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