Por Favor, Não Deixe de Tomar Sua Vacina
Galera, já vou logo avisando que a conversa aqui não é sobre futebol. Quero mandar um papo reto sobre uma questão que, hoje, é mais importante que o esporte.
A molecada que me segue e gosta de mim por causa dos meus gols ou da dancinha do Pombo (pruuuu!) pode pensar que falar sobre saúde é um negócio chato, mas, na humildade, peço alguns minutos da sua atenção para o que eu escrevo.
De coração, eu faço um apelo a todos vocês.
POR FAVOR, NÃO DEIXE DE TOMAR SUA VACINA!
Senti que era necessário passar essa mensagem ao saber que muitas pessoas ainda não se vacinaram. Não por falta de imunizantes nem por atraso na entrega das vacinas, mas por escolha própria. E isso me deixa preocupado. De verdade.
Infelizmente, a maioria dessas pessoas tem sido influenciada por informações falsas e teorias da conspiração que geral compartilha nas redes sociais, sem imaginar o estrago que pode causar na saúde de toda a população. Como pessoa pública, me vejo na obrigação de dividir com vocês alguns dados de fontes realmente confiáveis, que podem te fazer rever seus conceitos sobre as vacinas.
No ano passado, eu me tornei embaixador do USP Vida, um programa da Universidade de São Paulo que já arrecadou quase 20 milhões de reais em doações para pesquisas e projetos científicos. O programa não é restrito à vacina. Também ajudou a desenvolver respiradores mais baratos e de produção mais rápida, testes, equipamentos de proteção e outras coisas relacionadas à Covid-19. A vacina seria a cereja do bolo.
Os cientistas e médicos arriscaram suas vidas, abriram mão até de conviver com suas famílias para tentar uma solução. Eles são verdadeiros heróis e merecem ser valorizados pelo que fizeram. Não fosse o empenho deles em buscar a cura, a gente estaria numa situação ainda mais caótica.
Quando recebi o convite para ser embaixador do programa, eu me senti honrado. Entendi que a minha plataforma no futebol é um meio para que muita gente compreenda a importância da ciência em nossas vidas.
É uma coisa simples, mas que pode fazer a diferença, já que poucos cientistas têm alcance na mídia e na internet. Nós, atletas, temos tantos seguidores, tantas pessoas que param pra ouvir o que a gente fala...
Sei que muitos se preservam, já que as redes sociais se tornaram um ambiente pesado e uma terra sem lei mesmo, com os haters e todas as pessoas ruins que estão ali. Você posta alguma informação que pode ser útil e já começam os comentários do tipo “quem não lacra, não lucra” — sendo que toda vez que falamos algo nesse sentido perdemos um monte de seguidor, recebemos comentários de gente que acha que estamos falando para atacar algum político, alguma outra pessoa ou algum outro time.
A vacina é SUA, um direito seu. Não desperdice essa oportunidade.
- Richarlison
Mas eu não me importo, ainda mais quando existem vidas em jogo. Isso não é brincadeira. Se eu conseguir influenciar uma pessoa a se vacinar, já me sentirei vitorioso por tudo que tentei fazer nesse período. É uma vida que será salva dessa doença e várias outras ao redor que também se beneficiarão.
Eu poderia simplesmente apadrinhar um projeto ou uma pesquisa. Mas percebi que havia espaço para contribuir mais, divulgando o trabalho dos cientistas e das instituições de pesquisa.
Nada mais que uma pequena retribuição ao enorme sacrifício deles e de todos os profissionais que estão na linha de frente do combate à Covid-19. Por ter me aproximado do universo da ciência, eu consigo notar claramente o quanto a vacina tem nos dado esperança. Os números comprovam. No Brasil, as mortes pela doença caíram mais de 90% depois que a vacinação avançou. Há poucos dias, o país registrou a menor taxa de óbitos desde o início da pandemia.
Aqui na Europa também tivemos pessoas que estavam com medo de se imunizar, mas a maioria delas logo percebeu que essa era a melhor saída. Os estudos mostram que, atualmente, a maioria dos pacientes que sofrem complicações ou acabam morrendo ainda não tinha se vacinado. É verdade que nenhuma vacina tem 100% de eficácia, mas seus efeitos no controle da pandemia são inquestionáveis. Os dados não mentem.
Então, já sabemos por onde seguir para evitar que a situação não se complique novamente no futuro. Não queremos mais reviver o pesadelo de um ano e meio atrás.
A pandemia impactou todos os setores da sociedade. Com o futebol não foi diferente... Tivemos de parar os campeonatos, jogamos por muito tempo em estádios vazios, fazendo testes praticamente todos os dias. Fui impedido de me apresentar numa convocação da Seleção por causa das restrições para viajar ao Brasil. Mas tudo isso fica em segundo plano diante do impacto do coronavírus para milhares de famílias que perderam pessoas queridas nos últimos 19 meses.
Uma pessoa que não se vacina pode afetar o grupo de jogadores e o clube no geral. E isso vale para qualquer área ou profissão.
- Richarlison
Uma delas é a do Sebastião José da Silva, o Tião Borboleta, que foi meu primeiro treinador lá em Nova Venécia, quando eu ainda era só o “Lamparina”. O Borboleta me apelidou assim porque ele dizia que eu clareava a jogada para os meus companheiros. Ele foi o primeiro a notar um potencial em mim.
No interior do Espírito Santo, eu dei meus primeiros passos com a bola num campo chamado Penicão, por volta dos 10 anos de idade. Eu não temia os moleques maiores, partia pra cima de qualquer marcador. E o Borboleta falava que eu tinha mentalidade de adulto, sempre me encorajava. Fiquei muito triste quando soube da sua morte. Ele já era um senhor... Não resistiu à doença.
Meus pais também pegaram Covid, mas, graças a Deus, não desenvolveram nenhuma complicação. Mesmo assim, foi outro momento bem difícil pra mim.
Eu fiquei mais de dois anos sem voltar para a minha cidade devido à pandemia. Quando consegui dar um pulo em Nova Venécia, depois da Copa América, eu não pude abraçar a minha mãe. Eu só a vi a uns 30 metros de distância, porque ela estava com Covid e a gente não podia se aproximar.
Isso me doeu bastante, só que não posso reclamar, porque logo ela se recuperou e eu não perdi nenhum familiar para esse vírus. Tive a sorte que muitos amigos e conhecidos não tiveram.
Como eu venho dizendo, precisamos acabar logo com essa bagaça. E o único caminho para a cura é vacinar geral, o máximo de gente, o mais rápido possível. Estamos quase lá. Só falta empurrar a bola pro gol. E, para isso, temos de pensar no coletivo e atuar como um time. Cada um fazendo a sua parte, nós vamos virar esse jogo. Na verdade, já estamos virando — mas, por experiência própria, o jogo só acaba quando termina. E eu estou aqui de novo, como na época de infância, tentando clarear a jogada.
Repito: muita gente deu duro para termos essa chance. Cientistas e pesquisadores de diversos países se uniram para desenvolver a vacina em tempo recorde. Aprendi com os meus parceiros da USP que, por mais novo que seja o imunizante contra a Covid-19, o método da vacina já é conhecido, testado e comprovado há mais de dois séculos. Graças às campanhas de vacinação, nós conseguimos praticamente erradicar doenças como a paralisia infantil, que antes interrompia a vida de milhões de crianças pelo mundo.
Não tenho dúvida de que a vacina é confiável. Mas vejo que ainda tem gente com pé atrás, até mesmo alguns atletas. Uma pessoa que não se vacina pode afetar o grupo de jogadores e o clube no geral. E isso vale para qualquer área ou profissão.
Embora eu acredite que todos devam se vacinar, não acho certo tratar quem não se vacinou e teve uma postura distinta da minha como um inimigo. Quando você trata alguém assim, que espaço dá para que essa pessoa mude? Você praticamente fecha as portas para uma atitude diferente. Acredito que tudo pode ser resolvido na base da conversa. Não adianta partir para o lado da agressão e da briga, é hora de diálogo.
Tirando os que usam esses assuntos sérios para fins políticos, o que para mim é inaceitável, creio que aqueles que realmente têm dúvidas e precisam de um tempo para decidir, vão chegar à conclusão de que o melhor a fazer é tomar a vacina.
Como nós podemos ajudar? Dando um conselho, explicando como foi a resposta do nosso corpo à vacina, compartilhando notícias (reais)... Enfim, tentar dialogar e gerar uma reflexão. Se ainda restar alguma dúvida a respeito disso, oriente a pessoa que ainda não aceitou ser imunizada a buscar um médico de sua confiança ou de sua família para perguntar qual o caminho mais adequado.
Por outro lado, também me parece justo que, caso haja a necessidade de restringir viagens ou acesso a locais somente para pessoas vacinadas, quem não se vacinou entenda que isso é por um bem muito maior do que apenas uma escolha individual.
Se você tomou a primeira dose, não se esqueça da segunda. Se já tomou as duas, fique atento quando chegar a sua vez de tomar a terceira e quando começar a campanha de vacinação do ano que vem. Se você não tomou nenhuma, procure um posto de saúde. Ainda há tempo, sempre há tempo para se imunizar.
A vacina é SUA, um direito seu. Não desperdice essa oportunidade. Além de se proteger, você vai ajudar a proteger quem você ama, sua família, seus amigos e todo mundo à sua volta. Faça isso pelos cientistas e profissionais da saúde. Por todos que não tiveram a mesma chance. Pelas mais de 600.000 vítimas da pandemia no Brasil — e as mais de 5 milhões em todo o mundo.
Faça isso em nome do meu professor, o Tião Borboleta.
Vamos confiar na ciência!
Para encerrar, escolhi essa foto porque ela representa o meu amor pela Seleção, o meu amor pelo Brasil. Cara, você não faz ideia de como foi gratificante trazer a medalha de ouro para o nosso povo... Mas, neste momento da história, a melhor forma de demonstrar patriotismo, de dar uma contribuição ao país para superarmos esse desafio, é se vacinar.
Mete logo a vacina no corpo e bora correr pro abraço. Vejo vocês nas arquibancadas, todos vacinados, protegidos e saudáveis para comemorar mais um gol do Pombo.
Tmj!