Seguindo em Frente

Adam Hunger/AP

O que significa mudar e desafiar a si mesmo uma e outra vez? 

Seja há um mês, no ano passado, cinco ou 10 anos atrás, o fato é que toda pessoa — e todo atleta — enfrenta mudanças. Todo mundo precisa de desafios. Sejam eles físicos, mentais ou emocionais, são parte da vida de todos nós. Eu não sou exceção.

Há 20 anos, eu fui escolhido na sexta rodada do Draft, vindo da Universidade de Michigan, sem ter certeza se iria ser draftado. Quando o chamado finalmente veio, eu peguei todas as minhas coisas e me mudei para o outro lado do país. Eu não sabia por quanto tempo jogaria pelo New England Patriots nem mesmo se teria a chance de jogar por eles (eu era o quarto quarterback no depth chart no meu primeiro ano). Eu não tinha ideia de que passaria os próximos 20 anos em New England ou que começaria a formar uma família lá.

O mesmo vale para 2008. Eu não poderia ter previsto o que aconteceria quando, no segundo quarto da partida de abertura da temporada contra o Kansas City, rompi o ligamento cruzado anterior e o ligamento cruzado médio e passei os meses seguintes fazendo cirurgia e reabilitação na saga para me recuperar completamente.

Mudanças e desafios são parte da vida. Eles são parte da vida dos atletas. Eles devem acontecer. Às vezes, eles precisam acontecer. 

Essas mudanças podem ser emocionais, também. Desde que tenho ciência, minha carreira, e o futebol americano em geral, foi uma parte extremamente importante e gratificante da minha vida. Mas, tão importante quanto, e às vezes até mais gratificante, foram os momentos que passei com minha mulher, Gisele, e meus filhos, e a alegria que senti ao ver minhas crianças crescerem. No meu caso, isso significa checar constantemente comigo mesmo e com eles para garantir que minhas prioridades estejam no lugar certo — e se não estiverem, fazer os ajustes necessários.

Entretanto, não existe uma receita de bolo. Encontrar equilíbrio entre as coisas e as pessoas que você ama, e encontrar tempo para tudo, é como cada um de nós amadurece. Benny e Vivian, meus dois caçulas, têm agora 10 e sete anos. Eles não são mais bebês. Então, ser pai — e estar lá nos jogos de futebol ou hóquei, estar presente para eles — significa muito para mim. Encontrar o equilíbrio é um processo contínuo, que também está sempre em mutação. Esses dias, por exemplo, o meu mais velho, Jack, me acompanhou algumas vezes para treinar e arremessar.

Mudanças e desafios são parte da vida. Eles são parte da vida dos atletas. Eles devem acontecer. Às vezes, eles precisam acontecer. 

Tom Brady

Há 20 anos, cheguei em New England vindo de uma costa diferente, de uma parte diferente do país e de uma cultura diferente. Hoje, estou em transição para outro capítulo da minha vida e da minha carreira. Isso envolve juntar todas as coisas que aprendi e me mudar para uma costa diferente, uma parte diferente do país e uma cultura diferente. Se isso soa familiar, há uma boa razão, porque é como tudo começou. 

Minha jornada nos últimos 20 anos em New England foi incrível. Foi uma longa estrada, e eu não mudaria nada.

Quando os Patriots me draftaram em 2000, eu tinha 22 anos. Eu me lembro de estar sentado na casa dos meus pais em San Mateo, na Califórnia, ficando cada vez menos confiante de que meu telefone tocaria. Mas, mais tarde no Draft, ele tocou. A propósito, na sexta rodada não é como se o técnico Belichick estivesse do outro lado da linha — eu acho que era seu assistente, Berj: “Só queríamos te dizer que você foi escolhido pelo New England Patriots”, ele falou.

Um misto de empolgação e confusão. Fora os quatro anos na Universidade em Michigan, eu passei toda minha vida em San Mateo. Sinceramente, eu não tinha a menor ideia de onde New England ficava. New England era mesmo um lugar? Quando o Draft acabou, eu voei para o Leste, pousando não em Boston, mas em Providence, e dirigindo até o antigo Estádio Foxboro. Era meados de abril. Naquelas primeiras semanas, eu me lembro de tentar me localizar num lugar que eu não fazia ideia que seria minha casa pelas próximas duas décadas.

Gisele Bundchen Tom Brady
Kevin C. Cox/Getty Images

Eu não conhecia a Costa Leste. Demorou um pouco para me encontrar, isso pra não mencionar meu senso de direção. O fato é que, não importa onde você viva na Califórnia, o Oceano Pacífico está sempre a um passo a oeste. É quase impossível de se perder.

Mas, na Costa Leste, é tudo ao reverso. O Atlântico está a leste, e o oeste significa quase todo o resto. É o básico para os habitantes de New England, mas demorou um pouco pra eu me acostumar. Assim que consegui, imediatamente eu me dei conta da beleza e do quão única é a região de New England, seja em Martha's Vineyard ou em Nantucket, ou visitando Cape Cod ou nos Berkshires ou no Maine.

Foi também a primeira vez que experimentei todas as estações do ano. Neve e o tempo frio eu conhecia — os invernos de Michigan podem ser mais rigorosos que os de New England, mas eu nunca estive lá no verão. Em New England, eu tive a experiência completa da primavera (longa, lamacenta), verão (bonito, um pouco úmido) e outono (minha época favorita do ano, pois coincide com a temporada da NFL). Eu evoluí para associar árvores secas e o frescor no ar com o Halloween, e a família em casa para refeições e reuniões nos feriados. Eu passei a amar todas as estações — boa, ruim, quente, fria, com folhas, chuvosa, ensolarada, com neve ou com lama.

Eu também experimentei New England como marido e pai. Jack nasceu na Califórnia, mas passou muito tempo comigo aqui, e Benny e Vivi nasceram em Boston. Ver Benny e Vivi crescerem como cidadãos de New England foi uma experiência incrível. Eles sempre vão pensar em si próprios como cidadãos de New England. De uma forma especial, eu também vou.

Tom Brady New England Patriots
Kevin Terrell/AP Images

Porém, mais que um lugar físico, são as relações que construí em New England que mais vão me fazer sentir saudades. Claro que começa com toda a organização do New England Patriots e toda a família Kraft. E passa por todos com quem joguei nos meus 20 anos como um Patriot. Colegas e treinadores, do passado e do presente. Velhos amigos, novos amigos, os vizinhos que brincavam de “doces ou travessuras” todos os anos. Mas, principalmente, os torcedores.

Se tem uma coisa que posso dizer com certeza é que o cidadão de New England sabe o que é ser um torcedor. Eles são realmente apaixonados pelos esportes. Talvez porque, comparada a Nova Iorque, Chicago ou Los Angeles, Boston pareça menos uma cidade grande do que uma cidade pequena. Mesmo se você não conhece todo mundo em Boston, parece que conhece. Os torcedores se sentem parte do time, e meus companheiros e eu sentimos o mesmo deles.

O apoio e amor dos torcedores de New England sempre foram incondicionais. Muitos momentos maravilhosos ficaram marcados para mim — o centro de treinamento lotado, os desfiles de campeão, as dezenas de milhares de torcedores que iam nos ver no aeroporto cada vez que a gente pegava um avião para o Super Bowl. Ganhando ou perdendo, o número de pessoas que vinha nos receber quando voltávamos pra casa era o mesmo. Nas arquibancadas, cabem cerca de 70.000 pessoas, e eu nunca deixei de jogar num estádio com ingressos esgotados em toda minha carreira como um Patriot. O quão sortudo eu sou?

Tomm-eeee! Tomm-eee!”. Eu ouvia isso ecoando das arquibancadas e significava muito para mim. O apoio, muitas vezes, foi mais profundo que isso. Recentemente, uma amiga me disse que a irmã dela estava planejando dar o nome do seu primeiro filho, um menino, de Brady. Quando ela me contou, eu me dei conta do impacto que jogar pelo New England tinha na vida de tantas pessoas. Ouvindo isso, me senti tão impactado com a ideia de que, quando algumas pessoas pensam em mim, é com um calor no coração ou no espírito. Eu não consigo pensar num legado melhor.

Em cima da minha mesa, no escritório da minha casa em Brookline, tem um pôster do Joe Montana, meu herói de infância. Está ao lado das fotos dos meus filhos, vestidos com casacos dos Patriots, torcendo por mim no estádio. As crianças sempre guardam espaço para seus heróis, e poucas coisas me dão tanta honra como saber que eu faço esse papel para o filho ou filha de alguém.

Tom Brady Super Bowl NFL
Patrick Smith/Getty Images

A vida muda constantemente e, não importa qual decisão você tome, qual direção você escolha, sempre há uma oportunidade. Escolher deixar New England, o único time que defendi por 20 anos, para jogar por uma nova equipe é uma grande oportunidade, uma grande mudança e um grande desafio.

As pessoas às vezes me perguntam o que me motiva. A resposta é simples. Eu amo o esporte. Amo fazer o que faço. Eu quero fazer isso até que não queira mais. Jogar futebol não é algo que você faz sozinho no jardim. Futebol americano é um esporte coletivo, e ter a chance de ajudar meus companheiros é a principal razão pela qual eu coloco o jogo em primeiro lugar.

Fui abençoado por crescer em uma família incrível, com amor, pais e irmãos que me apoiaram. Eu deixei San Mateo e quase 5.000 quilômetros para o outro lado do país, para formar minha família em Boston. Agora estou virando a página para outro capítulo, outra experiência.

Quando você joga por um time durante 20 anos, a mudança é excitante, mas também desafiadora. Guardando tudo que você acumulou ao longo desse tempo, é natural se perguntar: Onde eu vou encaixar isso no meu novo espaço?

Quando você embrulha tudo, se dá conta de que algumas coisas cabem perfeitamente, outras não mais. Ou você deixa pra trás com o que não cabe mais ou faz um esforço extra para que caibam.

Os desafios e mudanças que estou enfrentando agora são físicos, mentais e emocionais — e o único jeito é seguir em frente. Estou pegando todas as coisas que aprendi até agora como atleta e levando para a nova página da minha carreira, enquanto continuo minha jornada como marido e pai. A coisa mais importante? Aproveitar cada momento. Porque passa tão rápido…

Para mim, jogar futebol não vai durar mais 10 anos. No tempo que resta, a questão é: Como eu posso maximizar o que faço, colocar tudo nisso, fazer o melhor possível? Nesse ponto da minha carreira, a única pessoa para quem preciso provar algo sou eu mesmo. Fisicamente, sou capaz de fazer o que sempre fiz. Agora preciso ver o que mais consigo fazer. Quero ver o quanto eu posso ser bom. Quero ouvir outras pessoas falarem: “Vai, cara. Isso é o que queremos. Isso é o que precisamos! Isso é o que esperamos!”. Lá no fundo eu sei o que posso fazer. Eu sei o que posso trazer. Agora quero ver na prática.

Meu treinamento e meu condicionamento não mudaram nos últimos anos. É como se preparar para correr uma corrida. Você não pensa na prova ou na linha de chegada. Você apenas fica pronto, amarra seus tênis, se aquece, se mantém ativo, encontra seu ritmo.

Juntamente com a oportunidade de ganhar campeonatos, o suporte dos meus colegas mais velhos foi uma parte maravilhosa de jogar em equipe.

Tom Brady

Quando é a hora de começar a corrida, você põe um pé na frente do outro. O resto é com você. Tudo vai acontecer no ritmo que precisa. Você não pode saber como será até lá. Então, por que não aproveitar e curtir a jornada?

Tive vários amigos e companheiros ao longo dos anos. Eu sempre fui o cara que não mudava. Como eu disse antes, jogar por um time durante 20 anos foi uma grande e maravilhosa experiência. Mas fazer a mesma coisa por anos e anos tem seus próprios desafios. Um ritmo familiar pode ser reconfortante e incrível. Mas também pode te fazer perder de vista outros ritmos, novos ritmos, que te lembrem que não acabou ainda. Um não é necessariamente melhor que o outro — são diferentes, e isso é tudo. Jogar pelo Tampa Bay Buccaneers é uma mudança, um desafio, uma oportunidade para liderar e colaborar, e também para ser visto e ser ouvido. E eu sei que minha passagem será incrível à sua própria maneira, bem como o que veio antes.

Vai ser diferente — isso varia com o território. Técnicos diferentes. Jogadores diferentes. Programas diferentes. Agora, eu não tenho ideia de como chegar ao Estádio Raymond James, ou de onde são as salas de reunião, ou onde cada um se senta. Vai ser uma curva de aprendizado, da mesma forma que foi me dar conta de que o Oceano Atlântico é sempre ao leste. Eu estou empolgado. Mais do que isso, estou motivado. Quero entregar ao meu novo time, meus novos técnicos e meus novos colegas. Não quero decepcionar ninguém. Eu vou dar tudo que tenho.

As boas-vindas e o calor que recebi dos jogadores e técnicos em Tampa Bay foram gratificantes. Da minha parte, eu amei conhecer um novo grupo de jovens jogadores. Eles me receberam como se eu já fizesse parte deles, querem ouvir o que tenho a dizer. Estou ansioso para ser completamente abraçado e pelo que posso trazer aos Bucs. Em troca, eu estou pronto para abraçar um time que confia completamente no que eu faço — e no que eu trago — e que não vê a hora de compartilhar essa jornada comigo.

Tom Brady Tampa Bay NFL
Getty Images

Isso é outra grande coisa que acontece quando você fica mais velho — você quer ver o sucesso de outros jogadores. Muitos veteranos foram mentores para mim nos Patriots. Eles estavam do meu lado quando assinei um segundo contrato, nas vitórias do Super Bowl, quando me casei. Eles me viram crescer, evoluir e começar uma família. Juntamente com a oportunidade de ganhar campeonatos, o suporte dos meus colegas mais velhos foi uma parte maravilhosa de jogar em equipe. Fazer o que puder para que os jovens possam evoluir como pessoas e jogadores significa muito para mim. Eu aprendi muito durante meus 20 anos em New England — e quero trazer essas coisas para meu novo time.

Agora eu tenho coisas a provar a mim mesmo. O único jeito é seguir em frente. Querer fazer algo diferente do que já fiz ou do que faço. Se eu estivesse na base de uma montanha e dissesse a mim mesmo que poderia chegar ao topo dela, mas não fizesse nada por isso, qual sentido teria?

Eu estou tentando fazer coisas que nunca fiz no meu esporte. É divertido para mim, porque eu sei que consigo fazê-las. Quando um time te dá uma oportunidade de fazer todas essas coisas, bem... Se não com eles, com quem? 

Em algum momento, você precisa se entregar por inteiro no que está fazendo. Você tem que dizer: “Vamos lá, vamos ver o que podemos fazer”. 

Quero mostrar a todos o que eu ainda posso fazer.



Em parceria com Under Armour.

Autografo Tom Brady

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