Subindo a Ladeira

Terrance Purdy Jr./The Players Tribune

Em março do ano passado, eu tive meu filho Adyn. No meio de outubro, voltei a jogar. É engraçado que as pessoas continuam me perguntando como eu me recuperei “tão rápido” lol. E eu fico tipo: “Caramba, não! Parecia uma eternidade!!”

Nas primeiras seis semanas, talvez dois meses após o nascimento de AJ, eu me senti incrível. Tipo: uau, isso é ótimo. As coisas estão indo bem. Ele está dormindo, está comendo e tudo mais. Sinceramente, fiquei meio chocada por me sentir tão bem quanto me senti, mas apenas aceitei que me sentia ótima e que as coisas estavam indo bem. Acho que é por isso que fiquei surpresa quando, do nada, algo mudou. Eu realmente não consigo explicar, mas, um dia, algo começou a parecer estranho. Eu não me sentia mais como eu normal, e minha intuição estava me dizendo: Ei, algo não está legal. Você precisa dizer alguma coisa.

Eu já havia lidado com a depressão antes, e piorei ao esconder isso de todo mundo. Então, dessa vez eu estava realmente inflexível sobre não ficar tão introspectiva. Eu tenho uma ampla rede de apoio ao meu redor, com quem sei que posso ser vulnerável — sem me sentir envergonhada ou como se fosse julgada de alguma forma — e me apoiei nessas pessoas. E eu acho que foi o começo de eu ser capaz de me abrir sobre muitas coisas. Eu tive que olhar mais a fundo para o que estava acontecendo comigo e mergulhar em questões que sempre foram um pouco mais desconfortáveis ​​para eu refletir. Os problemas de auto-imagem que tenho, tanto por estar no mundo do tênis quanto fora dele, e como todas essas coisas se ligam a mim como pessoa e como tenista. É como se eu finalmente tivesse que abrir aquele baú obscuro que mantive fechado por tanto tempo.

Eu realmente não consigo explicar, mas, um dia, algo começou a parecer estranho.

Taylor Townsend

Passar por isso me ajudou a seguir em frente e começar minha jornada de volta às quadras com o pé direito. Eu tinha que ter certeza de que voltaria com um bom estado de espírito, então estar aberta e disposta a passar por essas coisas difíceis, acho que esse foi o primeiro obstáculo. Eu tive muito tempo no ano passado para refletir sobre minha jornada. E, por sorte, tive a oportunidade de… não diria de reescrever minha história, mas uma chance de começar de novo e mostrar às pessoas onde estou neste momento da minha vida. Eu não sou mais a jovem Taylor com suspensórios e lacinhos no cabelo lol.

Eu sempre disse que esse esporte se mistura com diferentes faces da vida porque — com o perdão da palavra — muita merda vem à tona quando você está na quadra. E se você tenta esconder essas feridas ou colocar band-aid nelas, os band-aids vão sair. Meu treinador disse algo outro dia que resume perfeitamente: “Não podemos colocar band-aids em buracos de bala”. Este é um esporte de alto rendimento e alta pressão. Logo, seus curativos vão se desfazer e suas feridas serão expostas se você não tiver lidado com isso. Você pode escondê-las em uma partida, mas em sete??? Na frente de multidões?? Boa sorte.

Taylor Townsend tenista
Terrance Purdy Jr./The Players Tribune

A parte difícil é aprender e entender quais são essas coisas em sua vida — as coisas que funcionam a seu favor e depois as coisas que te atrapalham — e como você pode equilibrar todas elas. Você tem de aprender a se levantar das pancadas e se manter em movimento.

Quando finalmente voltei a jogar, eu me senti melhor do que quando saí. Esse era o meu principal objetivo desde o início, então alcançá-lo foi incrível. O torneio que ganhei em Charleston, na Carolina do Sul, definitivamente parecia algo digno de comemoração. Não porque eu ganhei, mas por causa de como eu ganhei. Em várias das minhas partidas, eu saí atrás e depois tinha de correr atrás do prejuízo, bem ao estilo eu que lute – mas não lutar com a adversária, lutar comigo mesma. Eu tive que chegar a um espaço mental onde eu pudesse aceitar que o que quer que aconteça, acontece. E no minuto em que eu deixo de lado o resultado, deixo de lado o que estava acontecendo do outro lado, deixo de lado o que eu não estava fazendo — ou o que eu não estava fazendo bem ou o que não estava sentindo — foi quando eu pude jogar livremente. Eu estava tipo: isso é meu. É integral. Está em mim.

Assistir à Serena competindo teve um grande impacto na minha vida.

Taylor Townsend

Aquele momento foi transformador, pois por uns 2 segundos eu cheguei ao topo de uma enorme ladeira que vinha subindo há muito tempo. E, claro, assim que passei dessa ladeira, fui para a Europa, e era como se uma montanha estivesse na minha frente.

Então, é uma montanha-russa constante, mas tem sido muito divertido. Essa semana bateu uma ansiedade básica? Bateu, claro. Mas definitivamente é ótimo estar de volta ao US Open. (:

Tenista US Open Taylor Townsend
Terrance Purdy Jr./The Players Tribune

Eu sei que o nível que estabeleci para mim — e que meu treinador e minha equipe exigem de mim — é incrivelmente alto. Embora eu esteja realmente agradecida por tudo o que aconteceu até chegar a este ponto, ainda tenho muito trabalho a fazer. Então é aí que minha cabeça está agora.

Sempre tive essa mentalidade obstinada, do tipo: Sim, você já alcançou certas coisas, mas isso não significa que você conseguiu. E mesmo quando você consegue, você não conseguiu, porque tem sempre alguém querendo tomar o seu lugar. Você vê isso com Serena Williams, que acabou de anunciar sua aposentadoria. Ninguém sentiu pena dela quando ela retornou às quadras — Emma Raducanu foi lá e jogou pra valer há algumas semanas em Cincinnati. Assisti toda aquela partida. Essa sempre foi a natureza deste jogo. Somos concorrentes e temos padrões extremamente altos para nós mesmas.

Saber que Serena iria se aposentar realmente me fez refletir muito sobre o esporte. Me dei conta que estamos diante do fim de uma era. Este é o fim da carreira de uma lenda do tênis que venho assistindo nos últimos 20, 25 anos. Assistir à Serena competindo teve um grande impacto na minha vida. Ela mostrou a mim e à minha irmã, quando éramos crianças, que tudo era possível para pessoas que se pareciam com a gente. Você só precisa ver um exemplo e, no nosso caso, tivemos sorte. Nós vimos dois. Ver o que era possível, através de Serena e Venus, me deu aquele pequeno vislumbre de esperança — por mais distante que parecesse, disse para mim mesma: Sim, eu realmente posso fazer isso.

Sempre senti que tinha algo a provar, e não acho que isso vá mudar.

Taylor Townsend

E agora, estou em um estágio da minha vida em que entendo o significado mais profundo do que elas fizeram. Elas são pioneiros. Elas lutaram para que não tivéssemos que fazer o mesmo. A estrada que elas pavimentaram, as oportunidades que elas criaram, as coisas que elas sacrificaram para poder praticar este esporte, competir neste esporte e ser aceita no esporte do jeito que as mulheres negras são agora, acho que é em grande parte por causa delas. E para mim, isso é grandeza.

Os elogios, jogar nos maiores palcos, ganhar Grand Slams e coisas assim, são ótimos. Mas a grandeza é mais do que isso. E todo mundo eventualmente tem de defini-la em seus próprios termos.

Quando iniciei minha preparação para voltar, meu objetivo era que eu que o AJ me acompanhasse nos trienos, queria que ele viesse às partidas, porque queria que ele soubesse que a mamãe está aqui trabalhando. Não vou sair de casa sem motivo, não vou viajar semanas inteiras, ficar longe dele a troco de nada. Portanto, tenho esperança que ele possa compreender isso e saber que estou trabalhando para ser melhor. Tentando ser melhor na quadra de tênis, tentando ser uma mãe melhor, uma pessoa melhor e uma amiga melhor, tudo. E parte da grandeza, aos meus olhos, é abraçar e incorporar cada processo necessário para ser a melhor versão de você, aceitando a si mesma e todas as coisas que vêm com ser quem você é.

Taylor Townsend tenis feminino Serena Williams
Adam Hagy/Getty

Todos os obstáculos que tive de superar para chegar a este ponto me deram confiança para poder dizer que sei que tenho o que preciso. Sei que estou onde preciso estar para competir e vencer.

Sempre senti que tinha algo a provar, e não acho que isso vá mudar. Sempre fui supercompetitiva. Sempre odiei perder. Eu sempre odiei ser eliminada. Eu sempre fui assim.

Pode ser que algumas coisas tenham mudado em mim, mas essa parte?

Essa parte não mudou nem um pouco.

Autografo Taylor Townsend

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